Deletar seu Instagram não adiantará. Você precisa de Estética.

Todos nós já tivemos vontade de deletar as redes sociais.

Intuitivamente, sabemos que tem algo muito errado acontecendo.

O problema é que sumir do mundo virtual não resolve o problema - e você sabe disso.

Mas - o fundo disso surge em um ponto pouco mencionado:

Estética.

Não me refiro à estética de senso comum - moda ou paleta de cores.

Isso é variável demais.

Me refiro à estética que prende sua atenção. Aquela que rouba o seu foco - que lhe distrai.

E a sua atenção - seu foco - é uma das bases da sua paz. A essência por trás de onde está sua atenção reflete sua situação interna.

Por um momento - esqueça cursos, livros, tecnologias - ou qualquer coisa que você esteja tentando aprender.

Entender o princípio de estética será um dos skillsets mais valiosos que poderá adquirir nos próximos anos. Tanto para seu bem estar quanto para qualquer objetivo que você tenha.

Por quê?

Porque o aspecto mais importante da economia não é mais o dinheiro, e sim sua atenção.

Quando se fala de atenção, está tudo em jogo.

É a partir da sua atenção que produtos são vendidos, ideias são espalhadas e algoritmos são treinados - majoritariamente para aumentar o fluxo dos dois primeiros itens.

A atenção é escassa - e por isso tantos recursos são investidos para tê-la.

Você não consegue fazer um swing trade para recuperar seu foco - nem aprender Python. Também não consegue fazer uma graduação ou um MBA que lhe garantirá ele de volta.

Mas consegue fazer todos esses com atenção e foco.

A sua atenção é um commodity raro e irrecuperável. Planejar e investir de forma sábia será crucial.

Estamos entrando em uma nova economia - onde sua atenção é a moeda de troca mais valiosa.

...E a estética é uma das chaves da atenção.

Não é questão de fugir das redes sociais, e sim de levantar o véu e entender o mecânismo por trás delas.

É um dos melhores momentos da humanidade para conciliar a sua estética individual com o todo - alavancando o poder da Internet para isso.

1) Estética

Sabe quando você acha uma série e assiste ela o dia inteiro? Ou quando você acha uma música e deixa ela em loop durante dias?

Isso é uma experiência estética.

Ela rouba sua atenção por um período - e lhe mergulha em um mar de sensações diferentes. Se lhe perguntam o porquê está ouvindo ou assistindo aquilo - você não sabe responder - só continua fazendo.

Pode tentar analisar e teorizar - mas não sabe responder exatamente o que é. Talvez de uma forma simbólica - mas essa também é uma representação estética.

Fato é - não há como fazer a outra pessoa sentir exatamente o que você sente ao assistir ou ouvir algo.

A experiência estética é individual e vai além do racional.

Ela é subjetiva e irracional. Ela só é.

O que pode ser estético para você - e algum grupo específico - pode não ser para outro.

No contexto que quero chegar - a experiência estética é quando algo que você experiencia - como música, filme, arte - e até situações cotidianas - geram uma resposta emocional em você.

Ao gerar essa resposta - ela prende sua atenção por um período de tempo.

E isso é poderoso.

Quando mal direcionada, vira fonte de angústia, confusão e ansiedade.

Com o aumento do fluxo de dados nos próximos anos - não só em redes sociais, mas em qualquer lugar - a tendência é que isso intensifique.

Caso não tenha consciência do que está acontecendo - irá entregar sua atenção para coisas que não lhe importam.

O dualismo pode te ajudar nisso.

2) Dualismo

Um dos alicerces que usamos para compreender a realidade é o dualismo:

  • Alto e baixo

  • Quente e frio

  • Ruim e bom

Yin Yang

Temos uma inclinação em compreender o mundo com base em opostos.

No dia a dia, tomamos atitudes alinhadas com alguma visão baseada em um conceito dualístico.

Evitamos sofrimento para favorecer tranquilidade - um dualismo entre bem e mal.

Geralmente, fazemos isso de três maneiras: Objetivos menores, médios e maiores.

Desde o horário em que acorda, até o horário que vai dormir - tudo é baseado em objetivos.

  • Acordamos cedo (objetivo menor) para irmos para a faculdade (objetivo médio) para assim conquistarmos alguma vida idealizada (objetivo maior).
  • Almoçamos (objetivo menor) algo dentro de uma dieta para termos saúde (objetivo médio) para assim conquistarmos alguma outra idealização (objetivo maior).

E qualquer coisa que fazemos fora disso causa desconforto (ansiedade, angústia e afins).

Acordou tarde e perdeu aula? Desconforto.

Comeu fora da dieta? Desconforto.

Isso porquê nossa programação humana é assim. Ela foi necessária para chegarmos até aqui.

Para nossos ancestrais - falhar em um objetivo menor poderia colocar sua sobrevivência e a de sua tribo inteira em risco.

Hoje em dia as coisas não são mais dessa maneira - mas a programação continua a mesma.

A única diferença é que os objetivos maiores (e médios) - que antes eram mais óbvios - foram agora sobrescritos por outros que, muitas das vezes - são desconhecidos.

Mas eles estão ali.

Se não houve uma definição consciente de objetivos maiores - eles foram atribuídos - seja pelo coletivo ou por alguma ideia específica.

Nós não ficamos sem objetivo(s) maior(es).

É como quando usamos um GPS - temos uma origem e um destino.

Qualquer falha na rota temporariamente gerará desconforto e confusão.

Porém, se você não sabe o destino - alguém decidiu ele.

... E a confusão por falhas na rota continuará - mesmo que inconscientes - emergindo como angústia sem motivo aparente ou atreladas a objetivos menores e médios. É um mecanismo de defesa e sobrevivência que não temos como desativar.

Está tudo conectado.

Uma boa maneira de começar a traçar quais são esses objetivos é observar sua rotina e se perguntar o porquê de cada objetivo menor.

No post sobre insights falei sobre a origem do senso de identidade e como cada viés e ideia pessoal herda de outra rede de ideias.

A mesma coisa acontece com os objetivos - os objetivos se abstraem.

Um objetivo maior depende dos médios, que depende dos menores - é assim que você reverte a ordem e descobre qual é o objetivo maior que você está seguindo.

Dica 1: geralmente eles também estão ligados com os viéses.

Alguns dos objetivos maiores podem ser:

  • A representação de uma versão idealizada sua ao mundo.
  • A perpetuação de alguma visão de mundo.
  • Ter uma família, etc.

Geralmente um objetivo maior é algo idealizado - possivelmente herdado de uma ideia coletiva.

Entenda que dinheiro é simplesmente um meio para um fim - ele é um objetivo médio - e o fim é o objetivo maior. Se não há um objetivo maior em vista - há algo errado.

Quando você identifica um objetivo atribuído - cabe a você decidir se é algo que realmente quer.

Dica 2: quando visualizado mentalmente, um objetivo maior deve lhe causar uma resposta emocional de motivação internamente - isto é, ação da dopamina. Do contrário, é um objetivo atribuído que não é seu de verdade.

Objetivos maiores e estética andam lado a lado.

Um objetivo que realmente lhe motiva nasce como uma visão interna que causa um efeito emocional (estética).

E por quê isso tudo é importante?

Pois um objetivo maior conscientemente definido irá tunelar sua visão.

Se lembra que qualquer coisa que saia da visão maior gera desconforto?

Nós queremos atrelar isso ao seu objetivo maior - sua estética pessoal.

Isso faz com que qualquer distração menor - ou algo que realmente não é relevante para você - não lhe afete mais com a mesma intensidade.

O seu GPS passará a ter como destino algo que você realmente quer.

Você estará usando todos os seus mecanismos internos a seu favor - para realizar algo que você realmente queira.

É um jogo relativamente simples - e uma tática imprescindível para a nova economia.

3) Excesso e Roubo

Particularmente, vejo uma grande conexão entre o desespero da nova era virtual com a filosofia de Kierkegaard.

De forma superficial - Kierkegaard costumava dizer que existiam dois sentimentos normais e predominantes - angústia e ansiedade:

  • A angústia surge de um desalinhamento com nosso verdadeiro potencial - no nosso contexto - vamos considerar que é um desalinhamento com nossa estética - nosso objetivo maior. Quando estamos fora de sintonia com ele - no fundo sabemos que há algo errado. Que precisamos mudar algo - mas geralmente não sabemos o quê.
  • A ansiedade surge perante a infinidade de possibilidades presentes - e o peso da liberdade de ter que escolher algo.

"A ansiedade é a vertigem da liberdade" - dizia ele.

Só de você ficar 5 minutos em seu Instagram será sobrecarregado de estéticas diferentes - que não tem nada a ver com você.

Chamo isso de excesso de estética. São tantos objetivos curtos, médios e longos que uma entropia começa a acontecer.

Se há um desalinhamento com o objetivo maior, a ansiedade será atenuada pelo novo número de possibilidades apresentadas. Você sente a vertigem da liberdade e do peso das escolhas.

Chamo isso de roubo de estética.

Sua atenção é roubada por alguns momentos para a apresentação de alguma estética externa - um objetivo maior de outra pessoa ou grupo.

Lembre-se - a estética gera uma emoção interna (seja lá qual for) - assim tendo sua atenção por um determinado período.

Com sua atenção fora de seu objetivo maior - sua vitalidade pode ser alavancada para algum outro objetivo que não é de seu interesse.

Feito isso - a angústia surge em um loop eterno com a ansiedade.

Percebe o problema?

Precisamos de uma estética interna e pessoal para quebrarmos esse ciclo.

E como fazemos isso?

4) Dualismo + Estética Pessoal = Visão Tunelada

Uma vez detectado o objetivo maior, podemos criar uma visão e uma anti-visão.

... Qual é o seu objetivo maior?

Fiz essa associação com estética pois ele literalmente deve representar algo platônico - como uma utopia particular.

A ideia é fazer uma cópia no mundo real dessa sua estética mental.

Não em uma obra específica - mas na realidade como um todo. É sobre a estética representar uma abstração ideal da sua realidade.

Se realmente é uma estética real particular, qualquer tipo de distração terá baixa intensidade perto dela.

Sua atenção estará protegida enquanto você corre atrás de materializar essa estética - e as angústias diminuirão.

... E qual é o cenário oposto ao seu objetivo maior? Qual o pior cenário de todos? O que você realmente quer que não aconteça?

É isso que você quer evitar.

Toda vez que seguir o caminho para o objetivo maior, estára fugindo do pior cenário possível.

Pronto. Você já possui sua visão dualística - foque no objetivo maior para evitar a anti-visão.

Verá que rapidamente começará a fazer progresso.

Propagandas, notícias e informações não lhe impactarão com tanta intensidade mais - a não ser que estejam alinhadas com seu objetivo maior.

5) Não Fuja da Internet

Agora, precisamos criar.

Na minha opinião, a melhor maneira de fazer isso é transcrevendo essa visão para a Internet - o que é meio contra-intuitivo, afinal, era dela que queríamos fugir.

Mas, se você utilizar as técnicas de dualidade, verá que as coisas que costumavam lhe incomodar não tem o mesmo efeito.

Estamos na primeira era que lhe permite transpor materialmente seus próprios conceitos. Não podemos perder essa oportunidade.

Se você notar, aplicações são abstrações da realidade.

E, se são abstrações da realidade - você consegue implementar pelo menos alguma visão ou objetivo que você tem.

Podemos criar algo rapidamente e mostrar para o mundo. A partir daí, é só iterar em cima da ideia e adaptar.

Alinhe sua visão com o poder da Internet - utilize ela ao seu favor.

Literalmente todas as aplicações que você usa - inclusive esse blog - foram ideias estéticas pessoais que foram materializadas - por meio de objetivos menores e médios.

  • O Uber é uma abstração do sistema de transporte - e foi inicialmente materializado por alguém.
  • O Instagram é uma abstração de interações sociais e comunicação visual - e também teve que ser materializado.

Com inúmeras ferramentas no-code você pode criar seu site para divulgar serviços ou ideias por um baixo custo.

Se quer algo mais complexo - com a facilidade de serviços PaaS, você rapidamente consegue subir e manter algum serviço sem muita dor de cabeça.

Durante toda a história da humanidade - nunca tivemos algo parecido.

Precisamos criar.

-Rapozo